CONSIDERAÇÕES SOBRE O PENSAMENTO CLÁSSICO E O PENSAMENTO SISTÊMICO

17/02/2011

  PENSAMENTO CLÁSSICO                        PENSAMENTO SISTÊMICO 

– Pressuposto da simplicidade                      – Pressuposto da complexidade

– Pressuposto da estabilidade                       – Pressuposto da instabilidade

– Pressuposto da objetividade                       – Pressuposto da intersubjetividade

PRESSUPOSTOS DO PENSAMENTO CLÁSSICO

O pressuposto da  simplicidade

Este pressuposto crê que separando-se o mundo complexo em partes encontram-se elementos simples. É preciso separar as partes para entender o todo, ou seja, o pressuposto de que “o microscópico é simples”. Daí decorrem, entre outras coisas, a atitude de análise e a busca de relações causais lineares. 

Este pressuposto tira o objeto de estudo dos seus contextos, prejudicando a compreensão das relações entre o objeto e o todo. Faz parte dessa perspectiva também a atitude “ou-ou”, que de acordo com a lógica, classifica os objetos, não permitindo que um mesmo objeto pertença a duas categorias diferentes. Além disso, esse pressuposto provoca a compartimentalização do saber, fragmentando o conhecimento em diferentes disciplinas científicas…

O pressuposto da estabilidade

 É a crença de que o mundo é estável, ou seja, em que o “mundo já é”.

Ligados a esse pressuposto estão a crença na determinação – com a consequente previsibilidade dos fenômenos – e a crença na reversibilidade – com a consequente controlabilidade dos fenômenos.

Este pressuposto leva o cientista a estudar os fenômenos em laboratório, onde pode variar os fatores um de cada vez, exercendo controle sobre as outras variáveis. Assim, ele provoca a natureza para que explicite, sem ambiguidade, as leis a que está submetida, confirmando ou não suas hipóteses. Ao levar o fenômeno para laboratório, excluindo o contexto e a complexidade, focalizando apenas o fenômeno que estava acontecendo, ele exclui a sua história.

Faz parte desse paradigma o pressuposto da previsibilidade: o que não é previsto com segurança é associado a um conhecimento imperfeito, o que leva a uma redução ainda maior do conhecimento por meio do pressuposto da simplicidade. Por conseguinte, a instabilidade de um sistema é visto como um desvio a corrigir.

O pressuposto da objetividade

Ele estabelece a crença em que “é possível conhecer objetivamente o mundo tal como ele é na realidade” e a exigência da objetividade como critério de cientificidade. Daí decorrem os esforços para colocar entre parênteses a subjetividade do cientista, para atingir o universo, ou versão única do conhecimento.

Com este pressuposto o cientista posiciona-se “fora da natureza”, em posição privilegiada, com uma visão abrangente, procurando discriminar o objetivo do ilusório (suas próprias opiniões ou subjetividade). Advém daí a crença no realismo do universo: o mundo e o que nele acontece é real e existe independente de quem o descreve. Com isso obtemos várias representações da realidade, que ajudaria a descobri-la. E o critério de certeza advém daquelas observações conjuntas e reproduzíveis, onde, coincidindo os registros de observações independentes, mais confiáveis e objetivas são as afirmações. A estatística encontra aí um bom campo de atuação.

Resumindo: a ciência tradicional procura simplificar o universo (dimensão da simplicidade) para conhecê-lo ou saber como funciona (dimensão da estabilidade), tal como ele é na realidade (dimensão objetividade).

PRESSUPOSTOS DO PENSAMENTO SISTÊMICO

O pressuposto da complexidade (em contraposição ao pressuposto da simplicidade)

Reconhece que a simplificação obscurece as inter-relações dos fenômenos do universo e de que é imprescindível ver e lidar com a complexidade do mundo em todos os seus níveis. Um exemplo de uma descrição baseada nesse pressuposto é a Sincronicidade, que prevê outras relações, que não são causais, para os eventos do universo. Além disso, a psicologia analítica lida de modo sistêmico com a psique, daí seu homônimo: psicologia complexa, ou profunda.

Um erro comum é imaginar que podemos resolver “todos” os problemas dividindo-os em partes e observando o que está falhando. Isto pode nos distanciar das relações entre as partes onde pode residir a real causa ou fatores que contribuem para o problema. Um raciocínio convencional (reducionista) é reduzir o problema a “isto” ou “aquilo”, enquanto o pensamento sistêmico define “isto e aquilo” A. Einstein 

 

O pressuposto da instabilidade (em contraposição ao pressuposto da estabilidade)

Reconhece que o mundo está em processo de tornar-se, advindo daí a consideração da indeterminação, com a consequente imprevisibilidade, irreversibilidade e incontrolabilidade dos fenômenos. A abordagem orgânica, a homeostase psíquica, e a noção de inconsciente (o que inclui a freudiana), com os seus componentes arquetípicos e complexos são exemplos de abordagem sistêmica da psicologia analítica.

O pressuposto da intersubjetividade (em contraposição ao pressuposto da objetividade)

Reconhece que não existe uma realidade independente de um observador e que o conhecimento científico é uma construção social, em espaços consensuais, por diferentes sujeitos/observadores. Então o cientista trabalha com múltiplas versões da realidade, em diferentes domínios linguísticos de explicações. Os tipos psicológicos junguianos são o que há de mais inovador nesse sentido, tendo inclusive reconhecimento científico tradicional na detecção dos tipos de personalidade.

Para o pensamento sistêmico, não existe uma realidade independente do observador.

Trata-se de uma epistemologia que traz definitivamente, para o âmbito da ciência, o observador, o sujeito do conhecimento.

IMPLICAÇÕES DO PENSAMENTO SISTÊMICO NA TERAPIA DE CASAL E/OU FAMÍLIA [1]

No atendimento sistêmico à família o profissional, ao atender seu cliente, passa a vê-lo como um membro integrante de um sistema familiar, colaborando e sofrendo a ação deste sistema. O profissional passa também a se ver, a partir deste momento, como parte integrante do sistema de atendimento que se está constituindo.

A partir deste momento o terapeuta buscará compreender toda a rede de relacionamentos que mantêm este sistema, as suas relações sociais com a comunidade, as relações do seu cliente com o sistema a que pertence, e as relações de seu cliente e ele (terapeuta). Deve buscar compreender também como todos estes membros do sistema (incluindo o próprio terapeuta) participam na manutenção e/ou na solução do problema que está sendo abordado.

O terapeuta continuará a exercer a prática para qual foi preparado em sua graduação ou pós-graduação, mas ampliando o foco de visão e de ação, buscando criar um contexto no qual todos os envolvidos com o problema possam co-construir sua solução.

O trabalho com famílias em uma visão sistêmica deve buscar usar recursos técnicos terapêuticos que se harmonizem com este tipo de visão do contexto sistêmico onde aparecem os problemas e onde se co-constroi uma solução.

Dentre os recursos técnicos terapêuticos disponíveis utilizamos com freqüência aqueles oferecidos pelo Psicodrama. Todas as técnicas e conceitos do Psicodrama se encaixam harmonicamente com a visão sistêmica nos processos terapêuticos seja na terapia individual, na terapia de casal e na terapia familiar.

As técnicas do Psicodrama, além de permitirem ao casal e/ou família falar de seus problemas e de como funciona seus sistemas familiares, passam também a vivenciar – como ATOR e como OBSERVADOR – as diferentes configurações destes sistemas e experimentar maneiras novas de se relacionar.

 

[1] Resumo aqui alguns conceitos que podem mais aprofundados no livro Atendimento Sistêmico de Famílias e Redes Sócias, de Juliana Gontijo Aun, Maria José Esteves de Vasconcelos e Sônia Vieira Coelho, Ed. Ophicina de Arte & Prosa, pags. 62 a 67.



TÉCNICAS DA ANÁLISE PSICODRAMÁTICA NO ATENDIMENTO DE CASAL E FAMÍLIA

19/11/2010

Técnicas da Análise Psicodramática no atendimento de Casal e Família

Maria Lúcia Mendonça Coelho

Introdução

Geralmente os casais e famílias que buscam uma terapia estão angustiados e em crise por problemas nas suas relações.

Um dos primeiros objetivos na terapia de Casal e Família é restabelecer o diálogo franco e sincero, desenvolvendo a capacidade de negociar e buscar propostas de mudanças.

Estas são técnicas utilizadas na Análise Psicodramática e Abordagem Sistêmica que mais utilizo no atendimento de Casais e Famílias.

É sempre muito importante poder aprofundar o conhecimento teórico destas abordagens para que estes instrumentos possam ser utilizados adequadamente.

As técnicas descritas abaixo facilitam e propiciam a condução da terapia para que possamos ajudá-los a resolver ou amenizar seus conflitos.

Duplo

O Duplo é uma técnica do psicodrama que é feita por um ego-auxiliar ou, algumas vezes, pelo próprio terapeuta que expressa, num determinado momento aquilo que o cliente não está conseguindo expressar, isto é, dando voz ao que ela não consegue colocar em palavras.

Inicialmente o ego-auxiliar adota postura corporal do protagonista (cliente) procurando ter com ele uma sintonia emocional. A partir daí expressa questões, perguntas, sentimentos e ideias, fazendo com que ele se identifique com este duplo; possibilita assim um insight do protagonista.

No atendimento esta técnica do duplo pode ser manejada pelo terapeuta da maneira que acabamos de descrever ou pode ser somente verbal utilizando apenas o princípio da técnica como ocorre com o uso de frases como “eu no seu lugar sinto que…”

O terapeuta, na função de “ego-auxiliar”, assume a comunicação não verbal do paciente e fala a partir das emoções que capta deste.

Na terapia de casal e família podemos usar esta técnica, com a permissão do cliente, enquanto ele estiver na Tribuna Livre, e demonstra uma certa dificuldade para expressar suas opiniões. [1]

Inversão de papéis

Essa provavelmente é uma das técnicas clássicas muito utilizada num processo clínico. Propicia além da vivência do papel do outro, o emergir de dados sobre o próprio papel que, sem este distanciamento, não seria possível. Consiste em assumir o papel do outro como ele o percebe na sua presença. Funciona para pessoas que estejam de alguma forma intimamente ligadas entre si (família, amigos, colegas de trabalho, etc.).

Para Moreno os indivíduos vivem o seu papel e o desta pessoa simultaneamente, aumentando a sua compreensão acerca da outra pessoa (p.ex. pai e filho). Isto permite que as pessoas percebam não só as ações da outra pessoa, como também as suas, clareando mal-entendidos, injustiças, etc., e permitindo uma aproximação.

As informações colhidas nessa técnica se prestam a várias funções: saber melhor como o paciente se sente visto pelo papel complementar; enxergar uma nova verdade através da tomada do ponto de vista do outro; responder para si mesmo as perguntas que tem por fazer ao papel complementar.

Esta técnica também pode fornecer uma imagem de si mesmo como em um espelho, para atingir também neste caso uma visão que exibe melhor a si mesmos através dos olhos de outra pessoa. A inversão de papéis pode de fato ser muito útil para desenvolver relações dentro dos grupos de qualquer tipo.

Esta técnica é muito usada na terapia de casal e família sempre com o objetivo citado acima favorecendo a comunicação e percepção do outro. Geralmente pedimos a um dos membros do sistema presente que se sente na cadeira da Tribuna Livre e fale como se fosse alguma outra pessoa presente durante a entrevista com o terapeuta.

Exemplo de consigna dada: “sente-se nesta cadeira e fale como se fosse o seu pai. Procure entrar em contato com o seu pai que existe dentro de você, como ele fala, como ele se senta, como ele se expressa…Vou entrevistar você como se fosse o seu pai”.

OBS.: O terapeuta deve aquecer o cliente no papel que deverá desempenhar, fazendo perguntas iniciais como qual é o seu nome, quantos anos o senhor tem, o que o senhor faz na vida, etc. Continuamos a entrevista-lo sobre como ele se vê nesta família (ou relação), como ele acha que é visto, como ele percebe o problema que estamos abordando, etc.

Espelho

Técnica através da qual o protagonista olha uma cena em que está envolvido. Isto permite à pessoa (protagonista) olhar fora dela algo que ela produziu.

Nesta técnica o terapeuta repete o discurso do cliente em direção do próprio cliente e, após a resposta, troca de papel com o cliente e torna a repetir o diálogo. Desta forma força-se o cliente a conversar consigo mesmo. Durante o espelho o terapeuta no papel do cliente deve sempre pressionar visando uma resposta do cliente à sua pergunta ou questão proposta pelo próprio cliente quando neste lado da conversa. [2]

Espelho que retira

É uma modalidade da Técnica do Espelho em que o terapeuta repete o discurso do cliente em direção a um ego-auxiliar ou almofada enquanto o cliente fica na posição de observador. [2]

Geralmente usamos esta técnica no atendimento de Casal e Família quando queremos trazer o discurso feito até então pelos membros do sistema, possibilitando rever e ouvir novamente no papel de observador.

Esta técnica pode ser usada num dado momento da terapia antes de se fazer um clareamento da dinâmica que estão apresentando, ou para atualizar algum membro que não estava ainda presente no atendimento.

OBS.: usamos a técnica do Espelho, que na realidade é a técnica do Espelho que Retira, na terapia de casal/família com alguns objetivos específicos. O terapeuta repete o discurso do cliente (casal/família) enquanto o cliente fica no papel de observador de si mesmo e desta forma força-se o cliente a conversar consigo mesmo. Muitas vezes o cliente traz um discurso repetitivo, sem qualquer reflexão do que fala, e sem apresentar qualquer proposta de mudança. Neste caso esta técnica dribla as possíveis defesas instaladas, ajudando no processo de reflexão e contato com as próprias possibilidades. Esclarecemos ao casal que iremos repetir o discurso que trouxeram nas sessões até o presente momento. Assim sendo vamos assumindo o papel de cada um e repetindo o seu discurso.

Espelho da relação

Esta é uma técnica onde utilizamos o princípio do espelho e o terapeuta fala e se expressa como se fosse a relação e “dando voz” a ela. Exemplo de consigna: “eu vou falar como se eu fosse a relação de vocês”. Exemplo da fala: “eu sou a relação entre fulano e ciclano e estou num grande impasse, mas…”

 Tribuna Livre

Esta é uma técnica muito interessante e útil para ser aplicada em trabalhos com casal ou família. É válida também para trabalhos em grupo.

Seus objetivos principais são o de exercitar a escuta e evitar as interrupções e contraposições (bate-boca) que costumam ocorrer em terapia de família.

Esta técnica consiste em colocar uma cadeira em destaque no setting terapêutico. Esta cadeira será ocupada em um sistema de rodízio por cada membro do casal ou da família e poderá “falar livremente” sobre as consignas passadas pelo terapeuta.

Um modelo de consigna poderia ser este:

“A partir de agora vamos trabalhar com vocês utilizando uma técnica chamada de Tribuna Livre. Quem sentar na cadeira que coloquei em destaque só falará comigo como se estivéssemos só nos dois nesta sala. Os demais devem ouvir com atenção e em silêncio”.

Os demais membros do casal ou família não podem interromper ou falar. Devem “ouvir”. Se quiserem podem anotar para comentar quando chegar sua vez. O terapeuta controla também o tempo de fala de cada um, podendo interromper ou questionar quem está na “Tribuna”.

O terapeuta vai estabelecendo a seqüência dos ocupantes da “Tribuna Livre” até que julgue adequado encerrar. Cada membro do casal ou da família pode ocupar a “Tribuna Livre” por várias vezes.

Se o terapeuta julgar adequado ele pode emitir sua impressão e ouvir a avaliação dos participantes

Cadeira Vazia

A cadeira vazia é uma espécie de psicodrama imaginário em que o paciente ora assume seu próprio papel, ora o papel da outra pessoa em questão, sentando-se na cadeira vazia e representando a pessoa à qual deseja falar algo ou dela obter resposta, explicação ou qualquer outra fala que proporcione o fechamento da gestalt aberta.  É uma técnica muito usada também em trabalhos de despedida, nos processos de “dizer adeus”, seja a alguém que já morreu ou afastou-se definitivamente do paciente

A técnica da cadeira vazia consiste em colocar uma cadeira vazia no setting na qual, imaginativamente, estará sentado um personagem qualquer a quem o paciente e o terapeuta devem se dirigir. É uma vivência útil para resolver situações inacabadas, nas quais a pessoa não consegue estabelecer contatos satisfatórios nas suas inter-relações devido à existência de sentimentos como raiva, mágoa e ressentimento, conscientes ou não.

Também usamos esta técnica quando um membro da família aparece frequentemente nos discursos dos clientes interferindo em suas dinâmicas, mas que por alguma razão não estão presentes na sessão.

Átomo social

O átomo social é uma configuração social das relações interpessoais que se desenvolvem a partir do nascimento. Na sua origem compreende mãe e filho. Com o passar do tempo vai aumentando em amplitude com todas as pessoas que entram no círculo da criança e que lhe são agradáveis ou desagradáveis e aqueles que reciprocamente a têm como agradável ou desagradável. [4]

Cada indivíduo pode se reconhecer em um número indefinido de átomos sociais (átomo familiar, átomo profissional…). Estes átomos sociais se cruzam, se interceptam e se multiplicam no curso de uma vida humana.

Cada um de nós é protagonista e artífice da formação, do crescimento, da dissolução e do renascimento de todos os átomos sociais que se compõem e se decompõem no caleidoscópio do universo humano. [3]

Esta técnica pode ser aplicada com o terapeuta pedindo ao paciente para apresentar dramaticamente as pessoas que lhe são de fato emocionalmente significativas. Estas podem ser próximas ou distantes, mortas ou vivas, do presente, do passado e até mesmo personagens imaginadas do futuro.

“Representa-se a si mesmo e a todos os membros do seu meio imediato do seu átomo social. Procura mostrar como atua em situações decisivas diante deles e como eles atuam nestas situações em relação a ele. Então, tenta mostrar como atua em situações chave. Procura reviver estas situações tão fielmente quanto possível. Apresenta a si mesmo de uma forma unilateral e subjetiva e apresenta diversas pessoas do seu meio, unilateral e subjetivamente, e não como elas são. Representa seu pai, sua mãe, seu irmão, sua esposa e qualquer membro do seu átomo social, com todo tendencionismo subjetivo. Representa e revive as correntes emocionais que enchem o átomo social. [3]

Átomo da crise

Esta é uma variação do átomo social e consiste em pedir ao casal ou à família para trazer psicodramaticamente as pessoas que estão envolvidas na crise e nas questões de angústia.

O procedimento é o mesmo do átomo social, mas com a seguinte consigna:

“Pensem nas pessoas que fazem parte deste tema (da crise, da dinâmica) que vocês estão trazendo. Imaginem que cada uma delas está sentada numa cadeira da sala. Falem para elas tudo que acharem que devem, que querem e que precisam falar”.

Se for um casal, eles trazem o átomo da crise isto é, as pessoas do conflito, e um por vez fala para cada uma das pessoas do átomo através da técnica da Cena de Descarga. Exemplo:

  • Cliente: “Vou falar para meu sogro! ”
  • Terapeuta: “Isto! Imagine que ele está sentado nesta cadeira e fale tudo que deseja para ele”.

Os outros membros apenas ouvem e, quando chegar a vez deles, farão o mesmo.

O terapeuta que está conduzindo a sessão pode ajudar o cliente a fazer a Cena de Descarga usando a Técnica do Duplo, isto é, ajudando a falar coisas que o cliente já falou em outras sessões, mas neste momento não está conseguindo falar.

Podemos também pedir que imaginem as pessoas que estão envolvidas na queixa que estão trazendo. Imaginar que estas pessoas citadas estão presentes nesta sessão ouvindo todos os seus discursos. Pedimos que os membros presentes nesta sessão invertam o papel com estas pessoas falando como se fossem elas e assim serão entrevistados pelo terapeuta.

A técnica da Cena de Descarga está descrita a seguir.

Cena de Descarga [5]

A Cena de Descarga é uma técnica sistematizada e desenvolvida por Victor R.C.S. Dias. Uma Cena de Descarga pode ser sobre uma situação que nunca tenha acontecido e que podem até não acontecer na vida do cliente, mas com o auxílio desta técnica, pode-se fazer com que ocorram e os objetivos daremos após a descrição das duas subdivisões desta técnica.

Cena de Descarga Direta: é feita pelo próprio cliente estimulado pelo terapeuta, expressando e comunicando seus conteúdos internos para um personagem do seu mundo externo (relacional) ou para um personagem do seu mundo interno (intrapsíquico). Estes personagens podem ser representados por almofadas, cadeiras vazias, objetos da sala e, quando existe a possibilidade, para um ego-auxiliar.

Cena de Descarga pelo Espelho: é feita pelo próprio terapeuta usando a técnica do espelho. O cliente fica com o papel de observador, enquanto o terapeuta expressa e comunica os conteúdos, contidos ou reprimidos, do cliente para personagens do seu mundo interno (intrapsíquico). Nestes casos, muitas vezes, o terapeuta acaba acoplando ao espelho conteúdos latentes (Técnica do Duplo), aumentando assim a eficiência da descarga.

Objetivos:

  1. Reduzir o superaquecimento do cliente pela exacerbação dos conteúdos internos e conseguir um mínimo de postura reflexiva para examiná-los.
  2. Evitar cargas transferenciais para o terapeuta, dirigindo o fluxo de conteúdos do cliente para personagens do seu mundo externo ou para figuras internalizadas em questão, e não para o terapeuta.

Bibliografia de referências

  1. Lições de Psicodrama introdução ao pensamento de J.L.Moreno, C.S. Gonçalves, José R.Wolff e Wilson C. de Almeida, Editora Ágora, 1988
  2. Análise Psicodramática – Teoria da Programação Cenestésica, Victor R.C. Dias, Editora Ágora, 1994
  3. Psicodrama, J.L.Moreno, Editora Cultrix, 1997
  4. Psicodrama de Grupo e Psicodrama, J.L.Moreno, Fondo de Cultura Económica, 1996
  5. Psicopatologia e Psicodinâmica na Análise Psicodramática, Victor R.C.S. Dias e Colaboradores, Volume III, Capítulo 6, Editora Ágora, 2010